Você já deve ter identificado que os insucessos e pequenas adversidades podem desencadear episódios de choro, irritação e até agressividade de crianças de diversas idades. Mas, por que as crianças reagem mal às frustrações? Atualmente, uma criança de sete anos tem mais acesso à informação do que um imperador romano em sua época ou um filósofo da Grécia Antiga. Neurologicamente, é difícil administrar tantos estímulos, sendo muitas vezes prontos: os jogos de celular, o desenho animado, o vídeo do youtube... São muitas informações concorrentes, que oferecem entretenimento sem demandar esforço. A mesma criança rodeada de possibilidades, ao entrar em contato com algum desafio ou contrariedade, não consegue administrar o sentimento de frustração, afinal, dificilmente esta criança tem estratégias para enfrentar o estresse de não saber fazer algo. Comparativamente, em termos de tempo, ela passa muitas horas do dia recebendo estímulos, e poucas horas construindo um brinquedo, criando as falas de uma brincadeira, produzindo atividades de faz de conta, movimentando o corpo em jogos coletivos... O esforço cognitivo não faz parte do dia a dia de uma criança que tem tudo ao alcance de um celular. E a frustração dificilmente será manejada quando se restringe o contato da criança com atividades que precisam ser pensadas, que tem um processo antes de chegar ao resultado. Mas, convenhamos: o estresse oriundo das exigências do ambiente e exigências internas também afetam adultos acostumados ao trabalho, ao desgaste do trânsito, às obrigações diárias que estão longe de serem prazerosas. É claro que a frustração também será experimentada pela criança que não ganha o que quer na hora que gostaria. Lidar com a frustração, que não pode ser evitada, torna-se tão necessária quanto aprender a ler. É tarefa árdua que potencializa o desenvolvimento humano, porque quanto melhor uma criança lidar com as frustrações, mais irá adiante em aprender habilidades novas. Por essa razão, algumas estratégias de enfrentamento são recursos para aumentar a tolerância às frustrações: as técnicas de relaxamento corporal e respiração, que atenuam as respostas de estresse do organismo; e gerir o tempo, organizando as tarefas do dia a dia de acordo com as possibilidades de cada um. Estas são algumas possibilidades que aumentam a autoeficácia das crianças. Com isso, elas apresentam, gradualmente, mais recursos pessoais para resolverem problemas, como escovar os dentes ou se vestirem sozinhas, por exemplo. As práticas de atividades físicas abarcam as técnicas de relaxamento e respiração quando a percepção do próprio corpo acompanha a prática esportiva. Os exercícios de alongamento, no momento de aquecimento, proporcionam a diminuição arterial e o ritmo respiratório. Já a clareza do objetivo, o incentivo de realizar independente do medo de falhar e a alternância de tarefas, estão relacionadas ao esporte e a administração do tempo, situações dinâmicas que contribuem para a organização e ordem dos pensamentos. Além do contato com outras crianças, quando as atividades são coletivas, e do contexto de acertar e errar, ganhar e perder, implicado ao esporte, que podem ser bastante aversivas para algumas crianças, há ganhos pessoais que favorecem a ampliação de recursos que passam a ser utilizados em situações de frustrações. Por tudo isso, praticar atividades que requerem movimento, tem foco na respiração e relaxamento muscular, são necessárias para aliviar a ansiedade e pensamentos disfuncionais, assim como gerenciar o tempo de forma ordenada e compatível com as possibilidades de cada criança. Estes recursos potencializados na prática esportiva contribuem para que a criança consiga oferecer respostas adequadas frente às contrariedades, reagindo de formas mais adaptadas às exigências do dia a dia.